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José Paulo Kupfer

Números indicam que economia brasileira perdeu o primeiro semestre

José Paulo Kupfer

09/08/2019 11h56

A divulgação do volume de serviços prestados em junho, nesta sexta-feira (9), completa o rol de informações básicas que permitem medir a dinâmica da atividade econômica no segundo trimestre do ano e no primeiro semestre. Depois de conhecidos os resultados da indústria e do varejo no mesmo período, a perspectiva é de que a economia tenha patinado na primeira metade de 2019.

Houve recuo de 1% no volume de serviços, na comparação de junho com maio, depois da estabilidade registrada em maio sobre abril. No segundo trimestre do ano, em relação ao primeiro, os serviços caíram 0,6%, pior resultado para o mês desde 2015. Considerando o conjunto do primeiro semestre de 2019, a atividade no setor avançou 0,6%, enquanto a taxa acumulada em 12 meses apontou expansão de 0,7%. 

Embora maio tenha oferecido uma perspectiva melhor para a atividade econômica em geral, junho reverteu a expectativa do início de uma recuperação. No segundo trimestre, na comparação com o primeiro, a indústria encolheu 0,7% e o comércio teve queda de 0,3%. Somente o comércio ampliado, que inclui venda de veículos e de material de construção, apesar da estabilidade no mês, registrou alta trimestral (de 1,2%).

Não há ainda consenso em relação ao que vai apontar a variação do Produto Interno Bruto (PIB) no intervalo abril-junho, previsto para ser anunciado pelo IBGE no fim de agosto. Mas há concordância de que o número virá ligeiramente positivo ou ligeiramente negativo, convergindo para a estabilidade. Computada a queda de 0,2% no PIB do primeiro trimestre, a conclusão é a de que o primeiro semestre, em termos de expansão da atividade, foi perdido.

Caso se confirme uma queda do PIB no segundo trimestre, a economia brasileira registrará uma situação de "recessão técnica", definida quando há retração da atividade por dois trimestres consecutivos. A classificação não tem maiores consequências práticas, indicando apenas a fragilidade dos fatores de impulsão econômica.

O setor de serviços considerado na pesquisa mensal do IBGE, exclui as atividades financeiras e do varejo. Apura, entre outros, o movimento dos negócios em hotéis, restaurantes, escritórios de prestação de serviços administrativos e técnicos, agências de publicidade, operadoras de telecomunicações e transportes em geral.

Muitos dos serviços são interligados com a atividade industrial, caso do setor de transportes de cargas. Com a indústria em estado de hibernação, os serviços acabam negativamente afetados. O fraco desempenho do segmento dos transportes também no segundo trimestre está na base dos números decepcionantes dos serviços no período, abaixo das expectativas dos analistas.

Mesmo admitindo uma recuperação no segundo semestre, com a colaboração da liberação de recursos do FGTS e do PIS/Pasep, os números insatisfatórios da atividade econômica na primeira metade do ano devem levar a revisões para baixo nas estimativas para a expansão do PIB em 2019. Novas projeções de crescimento no ano podem vir abaixo de 1%.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

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Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.