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José Paulo Kupfer

Comércio puxa criação de vaga com carteira assinada em novembro

José Paulo Kupfer

19/12/2019 18h10

São pelo menos duas as conclusões que se pode tirar dos números de novembro do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério da Economia, divulgados na tarde desta quinta-feira (19). A primeira dessas conclusões é a de que a economia engatou um recuperação cíclica mais evidente e mais acelerada, no final de 2019. A outra é que uma parte importante desse movimento se deve a estímulos de demanda, com destaque para a liberação de recursos das contas do FGTS.

O Caged contabiliza, mensalmente, o total de admissões e demissões no mercado de trabalho com carteira assinada, e seus dados de novembro desagregados são bastante claros em evidenciar tais conclusões. No conjunto, o saldo do mês passado mostrou a criação de quase 100 mil novos postos de trabalho formal, mais do dobro da mediana das projeções dos especialistas.

No emprego com carteira assinada, os números são positivos há oito meses consecutivos e o resultado de novembro foi o melhor para o mês desde 2010, ano em que a economia cresceu 7,5%, quando foram abertas 138 mil vagas. De janeiro a novembro de 2019, foram criados perto de um milhão de postos de trabalho formal.

Contudo, o grosso dessas vagas foi aberto no setor de comércio, notadamente o comércio varejista, com serviços vindo em segundo lugar. Indústria, agropecuária e construção civil fecharam vagas, em novembro.

Só o comércio varejista abriu 100 mil vagas. E  justamente no período de aquecimento de contratações para as festas de fim de ano,  com o poderoso reforço das promoções em torno da Black Friday.  Nos serviços, onde foram abertas 44 mil novas vagas, o saldo se concentrou em dois segmentos: corretagem e administração de imóveis (30 mil vagas) e hotelaria/restaurantes (16 mil vagas).

Já a indústria de transformação fechou 24 mil vagas, com recuo no emprego formal em nove de 12 subsetores, enquanto a agropecuária encolhia quase 20 mil postos de trabalho. Destaque negativo para as indústrias de alimentos, automobilística, química, calçados e têxteis.

A predominância do comércio varejista na abertura de novas vagas com carteira assinada em novembro reflete, diretamente, a injeção de recursos no bolso dos consumidores, com a liberação do FGTS. A dúvida que fica é se o emprego formal continuará registrando resultados tão positivos quando o efeito do estímulo se esgotar, repetindo o que ocorreu na virada de 2018 para 2019, quando a fonte de recursos então também sacados do FGTS secou.

Indicando que o mercado de trabalho formal, embora em expansão, mantém-se apertado, o salário médio de admissão, no conjunto do território nacional recuou 0,74% em novembro, na comparação com outubro, alcançando R$ 1.592,26. Este valor foi inferior ao salário médio de demissão, que ficou em R$ 1.795,16.

As novas modalidades de contratação, previstas na reforma trabalhista aprovada no governo Temer – trabalho intermitente e em tempo parcial – continuaram a crescer em novembro. Essas novas formas de relação de trabalho prosperam em profissões de baixa qualificação, como faxineiros, serventes de obra e repositores de mercadorias.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

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Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.