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José Paulo Kupfer

Inflação voa em dezembro, mas não é motivo de preocupação: voo de galinha

José Paulo Kupfer

20/12/2019 13h45

O preço da carne explodiu, o dos combustíveis subiram forte, e isso provocou uma alta da inflação, medida pelo IPCA-15 de dezembro. É nessas horas de pressões sobre os preços que é sempre bom lembrar que inflação não é preço alto, e sim alta de preços. Parece um jogo de palavras, mas não é – e faz toda a diferença.

Para configurar inflação, a alta de preços também tem de ser persistente. Se essa alta se dá por um choque de oferta – a disponibilidade de um produto ou serviço, por razões apenas pontuais, sofre um corte abrupto em dado momento -, o preço sobe, influencia o índice de preços e, naquele período de escassez aguda, a inflação sobe. Só que, no caso dos choques de oferta, a alta na inflação não se sustenta e recua, nos períodos seguintes. 

É o que está ocorrendo neste momento. A China vive uma crise alimentar, a taxa de câmbio ficou favorável para exportar, a produção de carnes brasileiras se desviou do mercado interno, direto para a China. Mas a tendência é de acomodação, como entendem os especialistas. O choque nos preços vai ser diluído com o tempo e a inflação voltará para o seu leito controlado. 

Com a economia ainda em recuperação lenta, mesmo que tenha engatado alguma aceleração neste fim de ano, reagindo ao dinheiro injetado no consumo pela liberação de recursos do FGTS e outras transferências de recursos públicos, a inflação logo deve superar o calombo de dezembro e voltar para uma trajetória menos pressionada. A tendência é de acomodação, tanto que o Banco Central prevê inflação em 2020 mais baixa do que a de 2019. Para o ano que vem, analistas projetam inflação de 3,5%, abaixo da meta, fixada em 4% para o ano.

Apesar de todo peso da alta da carne e dos combustíveis, no fim do ano, a inflação, medida pelo IPCA, fechará 2019, pelo terceiro ano seguido, abaixo do centro da meta. A meta é de 4,25% e a variação do IPCA, segundo analistas, terminará o ano com elevação entre 4% e 4,15%. 

Os núcleos de inflação, que tomam a temperatura da inflação excluindo justamente efeitos sazonais e altas pontuais, elevaram-se no IPCA-15, mas continuam longe do centro da meta, com alta de 3,13%, no acumulado anual. É uma indicação segura de que a inflação ainda não é um problema.

 

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.