Economia global se complica mais e isso atrapalha recuperação do Brasil
Mesmo antes da novíssima crise Estados Unidos-Irã, as perspectivas para a economia global em 2020 já não eram das melhores. O crescimento projetado, abaixo de 3%, seria o menor em três anos e o mais baixo desde o grande crash de 2008.
Com a elevação da temperatura no Oriente Médio a ponto de ebulição, o ano começa adicionando doses altíssimas de imprevisibilidade. Se um cenário internacional travado já não era uma boa notícia para a economia brasileira neste novo ano, o aumento das incertezas acumuladas só contribui para complicar um pouco mais a recuperação doméstica.
Desde 2008, a retomada do crescimento na economia mundial configurou um processo difícil e pontilhado de obstáculos. Os esforços para impulsionar o consumo, apesar da montanha de dinheiro injetada pelos governos na atividade econômica, resultaram em decepções.
Enquanto a absorção do endividamento geral se processava lentamente, as restrições fiscais jogaram para a política monetária, com o manejo das taxas de juros de referência pelos bancos centrais, a responsabilidade de promover a volta do crescimento. Os juros foram sendo cortados até a inédita situação de se situarem em terreno negativo.
Cerca de US$ 20 trilhões já foram aplicados em juros negativos ao redor do mundo. Mas o resultado para o crescimento econômico tem sido, no máximo, moderado. Dez anos depois do início da crise de 2008, a economia global não consegue avançar mais de 3% ao ano. As últimas projeções, antes do conflito EUA-Irã, apontavam, para 2020, crescimento de 2% nos Estados Unidos, não mais de 1% na Europa e menos de 6% na China, pela primeira vez em 30 anos.
Desemprego, aumento das desigualdades e movimentos migratórios – o caldo que o ambiente de expansão econômica contida produziu – deram espaço a políticos populistas. Estes, em nome de uma ilusão salvacionista, abraçada, sobretudo, pelas classes médias espremidas entre a concentração de renda no topo da pirâmide e a pressão por ações sociais em favor dos mais pobres, proliferaram nos anos recentes.
Donald Trump, o ícone dessa nova onda, eleito presidente da maior economia do mundo tem caracterizado seu governo pela adoção beligerante de políticas protecionistas, confrontando rivais. A guerra comercial com a China, o primeiro grande desses confrontos, promoveu um decréscimo no comércio internacional em 2019, acentuou incertezas em relação à recuperação da economia global em 2020 e, em consequência, esfriou ainda mais o ímpeto dos investimentos produtivos.
Os riscos para a economia mundial, nos anos 20 do século 21, se dividem em vários elementos. Além das guerras comerciais e do protecionismo, mantêm-se acesas as tensões geopolíticas, principalmente no Oriente Médio, em torno dos suprimentos de petróleo, e as disputas pela hegemonia tecnológica, representadas pelo domínio das redes de comunicação 5G e da Inteligência Artificial, que também contrapõem principalmente Estados Unidos e China.
Há mais complicadores, destacados pelo secretário-geral da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o mexicano Ángel Gurría. Um deles é a digitalização e outro são as mudanças climáticas. Juntamente com o envelhecimento da população mundial, são fatores que promoverão amplas mudanças estruturais nos processos de desenvolvimento econômico, afetando as relações de trabalho e o bem-estar das pessoas.
Além disso, o avanço das políticas e dos políticos nacionalistas, que adotam ações protecionistas na economia e isolacionistas nas relações internacionais, está minando os arranjos multilaterais construídos depois da Segunda Guerra Mundial. A ideia de encaminhar os conflitos, inclusive os econômicos, para espaços mais propícios a soluções negociadas está dando lugar a confrontos bilaterais sem mediação de terceiros. É terreno fértil para que as incertezas impulsionem, na economia, atitudes reativas e em geral defensivas.
Economias com as características da brasileira são as normalmente afetadas quando turbulências contaminam o ambiente internacional. Importante exportador de commodities agrícolas e metálicas, o Brasil sofre diretamente com cenários de retração na atividade global. A demanda por milho, soja, carnes e minérios cai, derrubando os preços nos mercados internacionais. Não é por coincidência que, por exemplo, a alta dos preços das commodities explica parte da relativa prosperidade experimentada nos anos Lula e sua queda está na base da profunda recessão que assolou os anos Dilma.
No caso do petróleo, embora o Brasil já produza mais do que consome, ainda é obrigado a importar óleo e derivados, o que se deve a restrições do parque nacional de refino. Por isso, nas crises geopolíticas, como o gravíssimo confronto que, neste momento, opõe Estados Unidos e Irã, com os cortes na produção e na distribuição pelos grandes produtores do Oriente Médio, o Brasil é negativamente afetado pela alta de preços.
Como economia emergente, o Brasil também sofre com a retração dos investimentos internacionais que, em tempos de conflitos, desviam sua trajetória para os mercados tidos como mais seguros dos países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos. É pressão direta sobre a taxa de câmbio e, por tabela, quase sempre sobre a inflação.
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