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José Paulo Kupfer

Tendência da inflação é ficar comportada; dezembro foi ponto fora da curva

José Paulo Kupfer

10/01/2020 11h49

A inflação de dezembro foi um ponto fora da curva. Mas suficientemente forte para representar a maior alta no mês desde 2002, e levar a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) a 4,31% em 2019, superando o centro da meta fixado para 2019 em 4,25%.

Não fosse o salto, no fim do ano, em alimentos, a inflação repetiria os números de 2017 e 2018, quando a alta de preços ficou não só abaixo do centro da meta como fechou mais próxima do piso do intervalo de tolerância. Mesmo acima do centro da meta, a variação do IPCA fechou 2019 longe do teto, que era de 5,75% no ano.

É possível concluir que a inflação de dezembro fugiu à tendência estrutural de alta dos preços quando se observam os núcleos de inflação – aquelas medidas que desconsideram variações sazonais ou excepcionais, caso da alta nos preços das carnes, em novembro e dezembro. A média desses núcleos encerrou 2019 com elevação de apenas 3,10%

As projeções medianas para a variação da inflação em janeiro de 2020 colaboram para a percepção de que a alta de preços em dezembro fugiu ao atual padrão. Com menor pressão em alimentos, os analistas apostam numa variação do IPCA abaixo de 0,5%. Também estimam que o ritmo inflacionário até meados do ano seguirá nessa batida mais bem comportada. Se isso se confirmar, a inflação acumulada em 12 meses recuará, gradativamente, mês a mês, já se acomodando em abril abaixo do centro da meta para 2020, que é de 4%.

A maior incógnita para a confirmação dessa tendência deriva do que pode ocorrer com o preço do petróleo, em reação à evolução das tensões políticas no Oriente Médio, em especial os confrontos entre Estados Unidos e Irã. As turbulências na economia internacional podem ainda pressionar as cotações do dólar e, em consequência, a inflação. Mas o governo tem condições de suavizar essas pressões.

A alta de preços de alimentos contribuiu com cerca de 70% da inflação de dezembro. No conjunto, no acumulado de 2019, subiram 6,37%, com explosões de preços em alguns itens. O maior destaque foram as carnes, com alta de 32,4%, mas os preços das aves também subiram, registrando variação anual de 13,81%. Os preços de cereais e legumes subiram 12,9%.

Com o ritmo da atividade econômica ainda em ponto morno, não há motivo, exceto choques de oferta, como o ocorrido com as carnes e alguns produtos específicos, para sustentar uma trajetória de altas mais fortes da inflação. Mesmo que a economia apresente disfunções, que se refletem em baixa produtividade e eficiência produtiva, não existem razões estruturais que possam configurar um futuro quadro de estagflação.

De todo modo, o salto do IPCA em dezembro, puxando o acumulando do ano para além da meta de inflação, acende um sinal de alerta para a política de cortes nas taxas básicas de juros para estimular a atividade econômica. Também chama a atenção para o fato de que há limites para tentar sustentar o ânimo da economia somente com cortes nos juros.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.