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José Paulo Kupfer

3 dicas para se defender quando os mercados ameaçam entrar no modo "pânico"

José Paulo Kupfer

29/01/2020 04h00

Depois de uma derrubada geral, na segunda-feira (27), os mercados de ativos ao redor do mundo, exceto na Ásia, recuperaram parte das perdas do dia anterior, na terça-feira (28), sem, contudo, apontar horizontes mais firmes. Na Ásia, com as bolsas chinesas fechadas, em Seul, na Coreia do Sul, o principal índice da bolsa local caiu mais de 3%.

Esses movimentos podem até ser considerados normais. Houve uma correção dos exageros do dia anterior. Na bolsa brasileira, não por coincidência, os papéis que mais caíram na segunda-feira estavam entre os que apresentaram recuperação mais forte nesta terça.

Sinal de que o quadro nos mercados em geral permanece volátil e com operadores buscando segurança, o dólar reforçou a tendência de valorização ante todas as outras moedas, do euro às de economias emergentes. No Brasil, a cotação do dólar aliviou um pouco, fechando a R$ 4,19, com recuo de 0,39% sobre a cotação de fechamento do dia anterior.

Não há dúvida de que a situação continua bastante instável. O ritmo de evolução do contágio do coronavírus ainda é incerto, assim como é incerta a capacidade de controle de sua disseminação. Incertas, igualmente, são as perspectivas de recuperação da economia em 2020 e o que pode acontecer diante da elevação do endividamento geral, em volumes já acima de US$ 250 trilhões em termos globais, impulsionado pelos juros baixos ou mesmo negativos. 

Incertezas, ninguém pode se iludir, significam mercados voláteis e sensíveis. Em ambientes assim, riscos e perigos se avolumam para os investimentos em ativos financeiros. Algumas regras básicas ajudam a evitá-los ou pelo menos reduzir seus eventuais danos. Veja abaixo

Mantenha o sangue frio

Momentos de turbulência forte nos pregões, sobretudo quando causados por eventos não diretamente econômicos e de desfecho muito incerto, exigem o máximo de cautela do investidor. Para fugir das perdas, em geral pesadas nestas ocasiões, é preciso evitar pelo menos dois impulsos quase imediatos.

O primeiro é o de desfazer posições, tentando vender ativos que parecem fadados a derreter nas próximos dias ou mesmo nas próximas horas. O outro, no sentido contrário, é o de comprar papéis que, na onda de vendas, aparentam ter ficado "baratos".

São dois movimentos bastante arriscados. De um lado, vender correndo pode, é claro, evitar perdas maiores, mas traz o perigo de queimar uma aplicação que ainda não rendeu tudo o que poderia, caso o mercado se recupere no futuro próximo. 

De outro lado, comprar no impulso pode significar contratar ganhos na retomada das altas, mas configurará perda de pechinchas logo ali na frente, se os pregões continuarem para baixo, por um período.

Melhor, de todo modo, esperar que o nevoeiro das incertezas se dissipe, um mínimo que seja, antes de mexer nas pedras do tabuleiro.

Faça, no máximo, movimentos defensivos

Períodos de estresse nos mercados não são recomendáveis para reestruturação de carteiras. Nessas horas em que as cotações se movem mais por impulso, e o vaivém das cotações fica mais intenso, a prioridade deve ser preservar o patrimônio investido.

Caso exista possibilidade de extensão de um período de turbulências nos mercados, manobras defensivas se tornam ainda mais recomendáveis. Tomando como exemplo choques derivados do temor de um freio forte na economia chinesa, em razão da disseminação do coronavírus, seria então o caso de examinar substituir ações de empresas expostas à redução de compras chineses

Numa manobra de substituição no portfólio, no caso caso específico do atual momento, o foco deveria se dirigir a papéis de empresas exportadoras de commodities, mais diretamente afetadas pela redução da demanda chinesa. No seu lugar, poderiam ser reforçadas, por exemplo, posições em ações de varejistas no mercado doméstico, visto que projeções relativamente consensuais apontam expansão mais firme do consumo interno, em 2020.

Aproveite para analisar sua carteira (e oportunidades)

Uma parada, ainda que forçada, no dia a dia do acompanhamento dos mercados, pode ser um momento interessante para revisar e repensar estratégias de investimento. Isso pode ser feito enquanto se aguarda alguma dissipação do nevoeiro de incertezas – formadas, no caso atual do coronavírus, pela falta de informações seguras sobre o grau e o ritmo de disseminação do contágio, na China e ao redor do mundo.

Mesmo que a onda de vendas e, portanto, de baixa das cotações não perdure por muito tempo, a revisão de estratégias e portfólios tem tudo para revelar tanto posições vulneráveis a serem corrigidas e ajustadas quanto oportunidades que não estavam tão visíveis ao investidor. Se a tendência de baixa se prolongar, a revisão se torna ainda mais necessária.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.