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José Paulo Kupfer

BCs e governos iniciam reação, mas mercado de petróleo terá turbulências

José Paulo Kupfer

15/03/2020 18h58

A semana que começa verá uma reação sem precedentes dos bancos centrais e dos governos, principalmente nos Estados Unidos e Europa, aos riscos e perspectivas de uma grande contração econômica global.

A ameaça de paralisação de atividades econômicos ao redor do mundo, com a consequente onda de quebras de empresas, calotes de dívidas e insuficiência de renda para as famílias, impulsiona a ação das autoridades. Aumentam, em velocidade parecida com a da propagação do coronavírus, projeções de grau contração na economia global.

Em nova reunião extraordinária, neste domingo (15), o Fed (Federal Reserve, banco central americano), reduziu os juros de referência nominal no mercado dos Estados Unidos a quase zero (a taxa vai operar no intervalo entre 0% e 0,25% ao ano).

Ao mesmo tempo, o Fed também reduziu para zero a taxa dos depósitos compulsórios dos bancos, como forma de estimular empréstimos. Além disso, depois de liberar US 1,5 trilhão em recursos para o mercado há menos de duas semanas, o Fed anunciou novo afrouxamento monetário de grande monta, oferecendo US$ 700 bilhões em recompra de títulos.

Em comunicado, o Fed informou que agiu em coordenação com os bancos centrais do Canadá, Inglaterra, Japão, Suíça e o BCE (Banco Central Europeu). Também no domingo, Banco Central da Nova Zelândia, igualmente em reunião extraordinária, reduziu os juros básicos locais.

Outros bancos centrais devem seguir o caminho que o Fed está tomando, reduzindo juros e garantindo liquidez aos mercados com injeções maciças de recursos.

Todo esse esforço pode ajudar a conter novos movimentos de baixa nos mercados acionários e de moedas, mas há também novas pressões contrárias em formação. O sensível mercado de petróleo deve enfrentar novo ciclo de turbulências com a decisão da Arábia Saudita de reforçar a inundação de oferta do petróleo que vem promovendo.

Neste domingo também, os sauditas anunciaram novos aumentos da produção, com o intuito de derrubar o preço do barril para US$ 25. Os sauditas travam uma guerra de preços com a Rússia, no mercado de petróleo.

Para ter uma ideia do tamanho da derrubada da atividade econômica, com a paralisação de atividades ganhando profundidade e amplitude, o banco Goldman Sachs divulgou projeções alarmantes para a economia americana em 2020. Os analistas do banco americano estão prevendo agora  crescimento zero, no primeiro trimestre e contração de 5%, no segundo, na economia americana. A previsão para o ano como um todo caiu de 1,2% para 0,4%.

O Brasil não escapará nem das forças recessivas, nem da necessidade de abrir torneiras para dar suporte a empresas, endividados, trabalhadores e vulneráveis (pobres e informais). Resta ver se a reação será rápida como requerido.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.