PIB cresce pouco e economia sem fôlego não aponta horizontes para o emprego
A economia brasileira bateu na trave e escapou da "recessão técnica", evitando registrar dois trimestres consecutivos de retração do nível de atividades. Mas, ao crescer 0,4%, no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro, ainda que acima da projeções, não se livrou da perspectiva de permanecer em hibernação também em 2019, repetindo o padrão dos dois anos anteriores.
Se não permite configurar uma "recessão técnica", a expansão ocorrida no período abril-junho representa uma recuperação que deve ser colocada entre aspas. O avanço agora repõe com pequena sobra as perdas do primeiro trimestre, quando a economia recuou 0,1%, de acordo com a revisão divulgada nesta quinta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A movimentação econômica, na metade inicial de 2019, confirmou o pouco fôlego da atividade.
Chances de uma retomada mais forte no segundo semestre são (bem) pequenas — para não dizer nulas. As indicações são de que julho e agosto não foram meses de atividade mais acelerada, e é até possível que o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre apareça com um sinal negativo. Entre os analistas, a crença é a de que o período julho-setembro deve marcar o fundo do poço do atual ciclo econômico.
Para crescer 0,8% em 2019, como aponta a projeção de consenso do momento — incluindo a do próprio governo —, a expansão média nos dois últimos trimestres do ano teria de ser superior a 0,4%. Crescimento de 1% no ano exigiria avanço médio trimestral de 0,5%. São hipóteses de confirmação não impossível, mas improvável.
Desde o fim oficial da última recessão, no quarto trimestre de 2016, a evolução média trimestral da economia não passou de 0,4% (0,2% se for excluído o primeiro trimestre de 2017, no qual a produção agrícola deu um salto excepcional). O estado de "quase recessão" no qual a economia deverá se manter em 2019 não abre os espaços necessários para destravar o desemprego e o subemprego. A válvula de escape do mercado de trabalho continua concentrada no segmento informal.
Dos resultados do segundo trimestre, a melhor notícia veio do investimento. Depois de recuar 1,7% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2018, cresceu 3,2%, na comparação com o primeiro trimestre do ano e completou o primeiro trimestre com saldo positivo. Mas ainda se encontra cerca de 30% abaixo do seu pico, registrado no início de 2014.
Tecnicamente chamado de formação bruta de capital fixo (FBCF), o investimento expressa a produção de máquinas e a construção civil — residencial, comercial, industrial e pesada. É importante indicador da capacidade produtiva de uma economia e do impulso para o crescimento.
A taxa de investimento, indicador da relação entre a FBCK e o PIB, no segundo trimestre, subiu ligeiramente para 15,9% ante 15,5% nos três meses anteriores. Continua longe, porém, dos 22%/23% necessários para sustentar expansão econômica consistente de 2% a 3% ao ano.
Responsável por 60% da formação do PIB, o consumo das famílias avançou 0,3% no segundo trimestre e 1,6%, na comparação com o segundo trimestre de 2018. Dos elementos que o impulsionam, só o crédito tem mostrado alguma melhora. Os demais elementos, caso do emprego e da renda, continuam enfrentando pesadas barreiras. O consumo do governo, que recuou 1%, no segundo trimestre sobre o primeiro, também contribui para segurar a atividade econômica.
São muito elevados os níveis de ociosidade na economia. O desemprego atinge 12% da força de trabalho, e quase 30 milhões de trabalhadores estão subutilizados, enquanto 25% da capacidade produtiva instalada se mantém ociosa. Tal situação retrata um quadro agudo de insuficiência de demanda, agravado por restrições fiscais.
A trajetória da recuperação da economia, na sequência da profunda recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 e tecnicamente encerrada no último trimestre de 2016, é a mais lenta de toda a história econômica brasileira. Passados quase três anos, o nível de atividade ainda está 5% abaixo do pico atingido nos primeiros meses de 2014.
Depois de muita hesitação, o governo adotou medidas tímidas de incentivo à demanda, liberando a conta-gotas, a partir de setembro, parcelas do FGTS e do PIS/Pasep. O alívio que a injeção de R$ 42 bilhões entre 2019 e 2020 poderia trazer, no entanto, corre riscos de ser anulado. De um lado, pela violenta crise econômica na Argentina, ainda importante parceiro, sobretudo no setor industrial. De outro, pelo ambiente recessivo que vai se espalhando pela economia global, alimentado pela guerra comercial entre Estados Unidos e China.
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