Inflação muito baixa sustenta projeções de juros abaixo de 5% no fim do ano
Não é que a inflação continue somente baixa, como mostra a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), em agosto. Observando as outras medidas da inflação, no mês, principalmente as de núcleo — que medem as variações de preços excluindo aqueles mais voláteis e com maiores influências sazonais —, pode-se concluir que a inflação está ineditamente baixa e sem forças.
A variação acumulada em 12 meses da média de sete medidas de núcleo de inflação aponta alta de 3,04% — mais perto do piso do intervalo do sistema de metas para 2019 do que do centro. O centro da meta de inflação para 2019 está fixado em 4,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Ou seja, o intervalo no qual são aceitos movimentos na trajetória da inflação vai de 2,75% a 5,75%.
Medidas de núcleo que mais expressam o comportamento da atividade econômica mostram variações ainda menores, abaixo do piso do intervalo do sistema de metas. O núcleo que concentra os preços livres está com variação de 2,49%, no acumulado em 12 meses. Já o núcleo que mede variações de preços de itens industriais e de serviços roda, no acumulado em 12 meses, a 2,67%.
As tendências da inflação continuam sinalizando variações de preços abaixo do centro da meta. Em agosto, a média móvel trimestral dos núcleos de inflação, acumulados em 12 meses, desceu a 2,24%. E os núcleos mais sensíveis aos movimentos de oferta e demanda, nessa mesma base, se encontram abaixo de 1%.
Esses resultados surpreendem um pouco porque já há algum tempo a taxa de câmbio tem sido pressionada — de junho para cá, a alta na cotação do dólar foi de 6,5%. Mas, desta vez, o repasse da alta do dólar aos preços tem sido mínimo.
Além de uma economia estagnada, ainda com alta ociosidade, outros fatores estão atuando para enfraquecer os repasses da alta do dólar aos preços. Um dos principais é a queda dos preços internacionais de commodities, na esteira do recuo do comércio exterior e da perda de aceleração na economia global. Também as incertezas gerais sobre o futuro da economia mundial promovem retração nas perspectivas de investimento, acentuando a tendência contracionista dos negócios.
A situação é propícia para novos cortes na taxa básica de juros. Depois dos resultados da inflação de agosto e das perspectivas de menor crescimento para a economia mundial, a redução da taxa Selic para 5% no fim de 2019 consolidou-se como aposta da grande maioria. Mas, combinando o baixo dinamismo da economia brasileira com a desaceleração econômica internacional, já há quem projete taxa básica em 4,75%, na virada do ano, como é o caso dos economistas do Bradesco.
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