Juro baixo não é economia dando certo; real forte não é economia forte
O presidente Jair Bolsonaro comemorou em seu Twitter o corte da taxa básica de juros, para seu nível histórico mais baixo, decidido pelo Banco Central nesta quarta-feira (18). "Em nosso governo, pela segunda vez, a mais baixa taxa de juros da história do Brasil", tuitou o presidente. E completou: "É a economia dando certo".
Bolsonaro, como ele próprio não se cansa de repetir, não entende de economia. A julgar pelo tuíte sobre os juros básicos, isso não é fake news e ele não entende mesmo. Juros básicos baixos nem sempre expressam uma economia em bom estado. Na verdade, taxas muito baixas costumam indicar economia com sérios problemas.
Em economia, as coisas nem sempre são como parecem. É comum, por exemplo, confundir moeda forte com economia forte. Toda vez que o real fica valorizado ante o dólar, dissemina-se uma sensação de que as coisas estão indo bem. Infelizmente, não é bem assim.
Produtos importados e viagens ao exterior ficam mais baratos para os brasileiros, mas a economia como um todo pode se enfraquecer —ainda que a tendência seja manter a inflação bem comportada. O desemprego pode aparecer logo ali.
Moeda muito valorizada tem a capacidade de tirar competitividade de concorrentes internos de mercadorias importadas. Além disso, costuma dificultar exportações, desestimulando a produção de bens vendidos no exterior.
Nessas circunstâncias, com o tempo —às vezes, pouco tempo—, as condições econômicas podem se deteriorar. Começa a faltar dólares para cobrir o buraco entre importações em alta e exportações em baixa.
A história da economia brasileira está pontilhada de episódios de colapso cambial e crise econômica, com origem numa taxa de câmbio muito valorizada.
A história da ascensão e queda de economias ao redor do mundo também mostra ser falsa a concepção de que moeda forte é sinônimo de economia forte. A China é um caso típico de economia que cresceu e se fortaleceu mantendo sua moeda mais enfraquecida em relação ao dólar, mas não é o único.
Antes da China, a Coreia do Sul praticou a mesma política de câmbio desvalorizado para impulsionar a indústria e suas exportações. Agora mesmo, para fazer a "América grande de novo", Donald Trump troca farpas com o Federal Reserve (Fed, banco central americano), que é independente do governo, para que corte mais os juros de referência, ajudando a desvalorizar o dólar.
Mesma coisa é possível dizer da taxa básica de juros (Selic). Ela chegou ao nível histórico mais baixo —e, provavelmente, ainda vai descer a níveis ainda mais baixos— porque a economia encontra-se em mau estado, estagnada e sem forças aparentes de reação.
Com as atuais restrições fiscais, que dificultam estimular a atividade econômica com aumento de gastos e investimentos públicos, resta a política monetária (política de juros) para tentar animar a economia. Da mesma forma que a política monetária comparece, com alta das taxas de juros, para frear aquecimento econômico excessivo, ela se vale de cortes nos juros quando a economia não dá sinal de vida.
No primeiro caso, a taxa básica age para retirar dinheiro de circulação e elevar os custos dos empréstimos, desestimulando consumo e investimento. No segundo caso, os cortes na Selic objetivam o efeito contrário.
A ideia de usar os juros para ajudar a animar a economia opera por diversos canais, dois deles mais importantes. O primeiro é o aumento da liquidez, ou seja, a injeção de recursos no aparelho circulatório da atividade econômica. O outro é a redução do custo do crédito, estimulando empresas e pessoas a contrair dívidas para consumir ou investir mais.
O Brasil, nesse sentido, não está sendo diferente do resto do mundo. Na Europa e no Japão, os juros já desceram tanto que passaram para o terreno negativo. Algo impensável até recentemente, as aplicações em títulos com taxa de juros negativa, que renderão ao aplicador menos do que ele investiu, já somam mais de US$ 15 trilhões.
São tantos os temores de crise e as incertezas em relação ao futuro econômico que muitos estão preferindo a segurança da preservação do patrimônio financeiro ao risco de tomar calote no futuro. Estão cedendo anéis para não perder dedos.
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