PIB de 2020 começa a subir no telhado, na projeção do BC
No RTI (Relatório Trimestral de Inflação), o Banco Central revisa, a cada três meses, suas projeções para os principais indicadores da economia no ano em curso e nos seguintes. O cenário traçado serve como pano de fundo para as apostas do mercado em relação à trajetória futura da taxa básica de juros. Mas, além disso, permite aferir as condicionantes consideradas pelo BC para estimar o ritmo de crescimento econômico.
O documento referente ao terceiro trimestre, divulgado nesta quinta-feira (26), promove ligeiro ajuste na projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019, de 0,8%, no RTI de junho, para 0,9%. Traz, porém, a novidade de uma projeção mais contida para o crescimento em 2020. Para o BC, se reformas forem bem-sucedidas, a economia avançará 1,8%, no próximo ano.
Comparando com previsões anteriores, para o BC, de certo modo, o PIB de 2020 começou a subir no telhado. No Boletim Focus desta semana, os analistas ainda estimam alta de 2% em 2020. Não faz muito tempo, a expectativa mais disseminado entre analistas era a de que o crescimento da economia em 2020 atingiria 2,5%.
O novo ritmo de evolução da produção econômica estabelecido pelo BC para em 2020, na verdade, passa a seguir mais de perto a trajetória imaginada por departamentos de economia de grandes bancos e pelas maiores consultorias privadas. Introduzindo no tabuleiro das projeções as incertezas em relação a economia global no próximo ano, estes já tinham limitado a variação do PIB brasileiro a um intervalo entre 1,5% e 1,7%, em 2020.
No caso de 2019, as projeções do BC para o comportamento da atividade econômica no restante do ano se sustentam na expectativa de que a liberação de recursos do FGTS e do PIS/Pasep ajude a revigorar o consumo. Tudo em tons moderados.
Para o BC, o crescimento será lento no terceiro trimestre e ganhará alguma aceleração no último quarto do ano. No conjunto de 2019, a previsão é de que o crescimento se apoie, principalmente, no avanço do setor agropecuário.
O BC melhorou a estimativa de crescimento da agropecuária de 1,1% no ano, no RTI de junho, para 1,8%, neste mais recente, de setembro. Nas estimativas do BC, entre junho e setembro, de outro lado, a industria perdeu ainda mais tração. Se, em junho, fecharia o ano com avanço positivo de 0,2%, na revisão de setembro só crescerá 0,1%. Os serviços mantiveram projeção de expansão de 1%.
No lado da demanda, entre junho e setembro, o BC alterou para cima o crescimento do consumo das famílias em 2019. A previsão, em junho, era de um crescimento de 1,4%, e agora acelerou um pouco para 1,6%.
O consumo das famílias — olha aí o FGTS de novo — foi o único segmento da demanda que registrou melhora na projeção de crescimento no ano, do RTI de junho para o de setembro. As estimativas de expansão do investimento recuaram, na mesma base de comparação, de 2,9% para 2,6%, enquanto as previsões para os gastos do governo caíram de 0,3% para -0,3%.
Da parte do setor externo, a contribuição para o crescimento, em 2019, nas projeções do BC, também passou de positiva para negativa. Levando em consideração a atual crise na economia argentina, o BC, que, em junho, previa avanço de 1,5% para as exportações, em 2019, agora aponta retração de 0,5%. Já as importações, que, na avaliação de junho, cresceriam 3,8%, em 2019, só devem agora crescer a metade disso.
Quanto à evolução das taxas básicas de juros, as apostas dos analistas, a partir das indicações do RTI de setembro, se concentram em duas alternativas. Os juros descerão até 4,75% ou 4,5% em fins de 2019, permanecendo estacionados a partir daí ao longo de todo o ano de 2020. Nas duas hipóteses, a inflação se manteria abaixo do centro da meta e a cotação do dólar oscilaria em torno de uma faixa pouco acima de R$ 4.
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