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José Paulo Kupfer

Termômetro da inflação reforça economia com temperatura muito baixa

José Paulo Kupfer

09/10/2019 11h42

O termômetro que mede a temperatura da economia apontou atividade reduzida em setembro. Faz sentido falar em termômetro e temperatura diante de indicadores de inflação, como o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), porque a inflação nada mais é do que um reflexo da dinâmica da atividade econômica.

Essa dinâmica, traduzida pela relação no tempo entre a demanda por bens e serviços e a oferta deles, está mostrando, no momento, que a demanda corre abaixo da oferta. Além da variação negativa do IPCA cheio em setembro, a maior prova de que a economia se encontra em estado de baixa temperatura é dada pela trajetória dos núcleos de inflação.

Os núcleos medem a temperatura da economia retirando do termômetro variações de preços afetadas por eventos ou situações sazonais ou fora do padrão. Em setembro, enquanto a variação do IPCA cheio, no acumulado em 12 meses, desceu a 2,89%, na média de sete núcleos, recuou para 2,82%, aproximando-se do piso do intervalo da meta de inflação, de 2,75%, em 2019. O núcleo específico que captura a ociosidade na economia está variando abaixo do piso da meta

Não há dúvida do significado desse número: o consumo não é suficiente para absorver o estoque de mercadorias produzidas ou de serviços oferecidos. Isso é confirmado pelos itens que influenciaram o resultado do IPCA de setembro.

Dois itens, com recuo acentuado de preços no mês passado, ajudam a explicar a situação. São eles a alimentação fora do domicílio e os eletroeletrônicos domésticos. A variação nos preços da alimentação fora de casa é um bom indicador da relação entre oferta e demanda no setor de serviços e o que está revelando é que sobra oferta.

Já a queda nos preços dos eletroletrônicos, que contribuiu para o recuo nos preços do grupo artigos de residência, a maior baixa do IPCA em setembro, aponta retração na procura por crédito, uma vez que o consumo desses produtos depende, tradicionalmente, da venda por crediário. Isso se deve a pelo menos dois fatores: problemas no mercado de trabalho e endividamento excessivo dos consumidores.

Desemprego, subemprego e informalidade são fatores que influenciam diretamente o consumo direto e via crediário. Os três fatores estão se mantendo elevados, sendo que a informalidade tem avançado mais aceleradamente. Além de maior dificuldade na obtenção de crédito, trabalhadores informais são, por definição, mais inseguros em relação a contratar empréstimos. Pessoas endividadas também são mais refratárias ao consumo de itens não essenciais.

Projeções para a inflação nos próximos meses não contemplam alterações nesse cenário de economia em baixa temperatura. Em outubro, o IPCA deve permanecer praticamente estável. Se as previsões se confirmarem, a inflação em 12 meses variará abaixo do piso da meta.

Ajustes para baixo estão fazendo com que as previsões para a inflação em 2019, na medição pelo IPCA, recuem das estimativas atuais de alta de 3,4% para mais próximo de 3%. Seria o terceiro ano seguido de inflação abaixo do centro da meta e mais próximo do piso do intervalo.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.