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José Paulo Kupfer

BC e Ipea melhoram previsão para o PIB, mas é melhor manter um pé atrás

José Paulo Kupfer

19/12/2019 15h27

Estamos, às vésperas da virada no calendário, no ponto alto da safra de revisões dos números da economia para 2019 e do ajuste das projeções para 2020. Só nesta quinta-feira (19), duas instituições públicas divulgaram suas estimativas. Tanto o Banco Central quanto o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) melhoraram as previsões para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 e 2020.

No RTI (Relatório Trimestral de Inflação), referente ao quarto trimestre do ano, o BC revisou o crescimento previsto para 2019 de 0,9%, que constou de RTI de setembro, para 1,2%. O Ipea, que projetava alta de 0,8% para o PIB de 2019, prevê agora avanço de 1,1%. As projeções estão em linha com as estimativas dos analistas de mercado, cuja previsão mediana, registrada no Boletim Focus, é de expansão da economia em 1,12%, neste ano, na comparação com 2018, e de 2,25%, em 2020.

Mesmo com a revisão para cima das projeções de crescimento econômico em 2019, o ritmo de expansão da atividade no ano, se confirmadas as estimativas, ficará ligeiramente abaixo do registrado nos dois anos anteriores. Em 2017 e 2018, segundo os números recentemente revisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB cresceu 1,3% em cada um deles. 

Depois da divulgação desses números, algumas ressalvas deveriam ser feitas. A primeira é a de que o histórico recente das previsões para a variação do PIB no ano seguinte tem se revelado excessivamente otimista. No RTI de dezembro de 2018, por exemplo, o BC projetava crescimento de 2,4% para o PIB de 2019. Metade do que deve apontar a realidade. 

Em parte, este risco deriva de uma questão em aberto, também presente em fins de 2018, que diz respeito ao peso, para a sustentação de um crescimento mais acelerado e duradouro, de medidas pontuais de estímulo à demanda adotadas pelo governo no segundo semestre. Seus efeitos, como ficou claro no desenrolar de 2018, não são renováveis e se esgotam com o tempo. 

A mais conhecida dessas medidas é a liberação de valores das contas do FGTS, nos meses finais de 2019, repetindo o que foi feito em 2018. Mas descontingenciamento de verbas e transferências extraordinárias de recursos para estados e municípios também devem entrar na conta desses estímulos não recorrentes. 

Trata-se de uma forma de ativar a economia, pela via do consumo das famílias, compensando, ainda que por tempo limitado, o enxugamento de recursos com origem na contenção de gastos públicos, em nome do ajuste fiscal. O problema é que o estímulo, em meio a taxas de desemprego e subemprego ainda elevadas, dura apenas o tempo em que o bolso do consumidor puder contar com dinheiro para ir às compras.

Nem tudo no ambiente econômico, contudo, faz de 2020 uma reprodução dos anos anteriores. Embora a mesma incerteza em relação à economia internacional permaneça, certos fatores na conjuntura interna mudaram e, em alguns casos, para melhor. É o caso da taxa básica de juros (taxa Selic).

Depois de um longo ciclo de cortes, iniciado em 2017, a taxa Selic entrará em 2020 no seu nível historicamente mais baixo. Mesmo que o spread bancário mantenha a taxa de juros efetivamente paga por pessoas e empresas em níveis altos, a tendência de redução do custo do dinheiro tende a animar o crédito, em especial nos segmentos com melhores garantias – crédito imobiliário e para compra de veículos, por exemplo. Também as decisões de investimento, em princípio, ficam mais favoráveis. 

Apenas este estímulo vindo da política monetária, porém, não é suficiente para disseminar por toda a economia um clima de retomada mais generalizado e duradouro. Mesmo crescendo o dobro de 2019 em 2020, a atividade econômica só voltaria ao último pico pré-crise, ocorrido no primeiro trimestre de 2014, em 2021. Isso significa que alguns, sim, mas nem todos sentirão melhoras em seu padrão de vida no ano que está para começar.

 

 

 

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.