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José Paulo Kupfer

Ataque de nervos nos mercados sugere a investidores a “regra da gafieira"

José Paulo Kupfer

27/01/2020 17h35

Avaliações de que o surto de coronavírus pode derrubar fortemente a economia chinesa, já no primeiro semestre, fizeram com que uma onda de pessimismo com o desempenho da atividade econômica global se alastrasse mais rápido do que a própria disseminação dos seus sintomas entre os seres humanos.

Cotações de commodities alimentícias, energéticas e metálicas, caso das carnes, petróleo e ferro, normalmente compradas em grande escala pela China, desabaram nos pregões desta segunda-feira (27). As bolsas de valores ao redor do mundo registraram fortes baixas, acima de 2%. Ações de empresas aéreas, sob o medo imediato de cancelamentos e desistências de voos, e, mais à frente, da redução da procura por viagens, foram ao chão.

Os mercados brasileiros não ficaram imunes à baixa generalizada. No meio da tarde, o Ibovespa, índice formado pelas ações mais negociadas na Bolsa brasileira, recuava quase 3%, operando abaixo dos 115 mil pontos. Papéis de Petrobras, Vale, siderúrgicas e exportadoras – como JBS e BRF – perdiam entre 3% e 6%. Com a queda abrupta das cotações, mais de R$ 30 bilhões em valor de mercado evaporaram num únoco pregão da B3.

Como sempre ocorre nessas situações, a fuga de investidores para os mercados tidos como mais seguros, sobretudo os Estados Unidos. Por isso, o dólar se valorizava ante todas as demais moedas. No Brasil, nesta segunda-feira, o dólar era cotado acima de R$ 4,20. 

Não se sabe se o pânico que começa a se desenhar com a perspectiva de uma pandemia global – ou pelo menos regional, disseminando-se pela Ásia –  será confirmado com o correr dos dias ou será contido pela ação das autoridades sanitárias globais e pelas medidas de bloqueio que estão sendo tomadas em outros países, nos pontos de entrada de pessoas vindas da China. É justamente essa incerteza que alimenta a enxurrada de ordens de venda de ativos, nas bolsas de ações, e de redução das compras, nos mercados de   commodities.

É possível também que os operadores estejam aproveitando a onda de vendas para promover um ajuste nas cotações dos ativos de maior risco, como as ações. Infladas, mundo afora, já há algum tempo, com a interminável sucessão de cortes nas taxas de juros, levando-as a níveis negativos, em termos reais, o valor dos papéis está fora da realidade dos resultados das empresas, no mundo real da economia.

De qualquer maneira, os pregões parecem estar ingressando naquela conhecida modalidade irracional, que prenuncia pesadas perdas para quem for pego no contrapé. Tanto pode iniciar uma reversão, rumo a uma acomodação, nos pregões seguintes ou embarcar de vez numa descendente mais perigosa e duradoura.

Nessas horas, a observação histórica de quem é do ramo sugere esperar o ambiente desanuviar, adotando a "regra da gafieira": quem está fora não entra, quem está dentro não sai, conforme manda a letra de "Pistão de gafieira", samba clássico de Billy Blanco.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.