PIB decepciona na reta final de 2019 e economia em 2020 segue sem impulso
Saída de uma profunda recessão já há quatro anos, a economia brasileira ainda não conseguiu até embicar um crescimento satisfatório. Tanto tempo depois, continua rodando cerca de 5% abaixo do registrado nos primeiros meses de 2013, pico imediatamente anterior ao início da descida da ladeira.
Foi nesse quadro, que configura a mais lenta recuperação econômica conhecida no Brasil, que, em 2019, a atividade econômica perdeu ritmo. A expansão de 1,1%, apontada nesta quarta-feira (4) pelo IBGE, representa um freio em relação a já lenta marcha de 2017 e 2018, quando a economia avançou 1,3% a cada ano.
A trajetória da atividade ziguezagueou ao longo do ano passado e pareceu ter tomado impulso mais forte entre fins do terceiro trimestre e início do quatro trimestre. Mas o avanço não se confirmou e a atividade terminou 2019 com perda de fôlego. No último trimestre, a economia avançou 0,5% sobre o trimestre anterior.
Particularmente os investimentos, que vinham registrando recuperação razoável nos dois trimestres anteriores, deram uma parada brusca no fim do ano. Entre outubro e dezembro, recuaram 3,3% sobre o período julho-setembro. No conjunto de 2019, os investimentos avançaram 2,2%, bem abaixo da evolução de 3,9% registrada no ano anterior.
A taxa de investimento, em 2019, ficou em 15,4% do PIB, apenas 0,2 ponto porcentual acima do número de 2018 e ainda longe dos 21% do PIB alcançado em 2013. A taxa de poupança recuou de 12,4% do PIB, em 2018, para 12,2%, no ano passado.
Com isso, a herança estatística de 2019 para 2020, anteriormente estimada em 1%, caiu para perto de zero. Antes mesmo dos impactos da propagação do coronavírus, as perspectivas menos animadoras formadas no fim do ano, em relação ao resultado de 2019 e às projeções para 2020, já vinham provocando revisões baixistas de crescimento da economia para este ano. Tais perspectivas foram agora confirmadas pelos números decepcionantes de 2019.
Para "dobrar" o crescimento de 2019 em 2020, como alardeava o ministro Paulo Guedes, e crescer 2,2%, em 2020, conforme previsão mediana dos analistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, válida até agora, a atividade econômica teria de avançar, em média, 0,7% em cada um dos quatro trimestres do ano. Algo difícil de se concretizar, mesmo sem considerar os efeitos negativos do surto global de coronavírus, quando se sabe que o crescimento médio em cada um dos últimos 10 trimestres não passou de 0,3%.
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, que divulgou, nesta segunda-feira (2), uma revisão geral para baixo do crescimento global, manteve para o Brasil a mesma estimativa de avanço de 1,7%, em 2020, divulgada em novembro. A revisão se baseou em dados mais recentes que apontavam para um freio na atividade, no fim de 2019 e início de 2020.
Diversos analistas também já vinham revisando suas estimativas, com base em frustração de expectativas de crescimento, a partir da divulgação dos resultados de dezembro de 2019. Com os números piores de dezembro e perspectivas menos promissoras formadas em janeiro, as projeções medianas de crescimento para 2020 recuaram de 2,5% para valores em torno de 2%.
A partir de meados de fevereiro, quando os impactos negativos do surto de coronavírus começaram a ser aferidos, as previsões para o crescimento da economia brasileira neste ano desabaram. Agora giram nas vizinhanças de 1,5%, com viés de baixa. O governo ainda não revisou sua estimativa de crescimento de 2,4%, em 2020.
A economia brasileira, sem dúvida, está exposta aos choques provocados pelos impactos do coronavírus nos negócios. De um lado, dificilmente escapará de problemas nas exportações, principalmente para a China, o maior mercado para commodities alimentícias e metálicas brasileiras, sem falar nas perspectivas de baixa nos preços dessas commodities. De outro, terá de se ver às voltas com irregularidades no fornecimento de suprimentos para a produção local, em boa parte dependente de importações, sobretudo, mas uma vez, de peças e partes vindas da China.
O tamanho e a profundidade dos estragos dependerão da duração do surto de coronavírus. Mas seria um engano concluir que sem o grande e inesperado choque sanitário o crescimento em 2020 deslancharia. Taxas de juros cada vez mais baixas ajudam a estimular o crédito e o investimento. Mas, sozinhas, como já se observa, são insuficientes para sustentar uma retomada mais consistente.
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