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José Paulo Kupfer

Tombos da Bolsa indicam que havia bolha financeira, e ela estourou

José Paulo Kupfer

11/03/2020 17h04

A decretação pela OMS (Organização Mundial de Saúde) do estado de pandemia, nesta quarta-feira (11), arrastou para baixo os índices das bolsas de valores e de outros mercados de ativos financeiros ainda em operação, ao redor do mundo. Na Bolsa brasileira, pouco depois das 15 horas, o Ibovespa caiu mais de 10%, acionando o mecanismo que suspende o pregão por 30 minutos. O dólar era cotado a mais de R$ 4,70.

Trata-se de uma situação clássica de estouro de uma bolha financeira. Fortes quedas e fortes altas se sucedem, em meio a um efeito irracional de manada entre os investidores. Pode levar um tempo até que as cotações encontrem um novo ponto de equilíbrio.

Até lá, oscilações e turbulências estarão presentes. Para encarar o violento sobe e desce é preciso ter estômago de ferro e nervos de aço. Imagine como se sentiu quem vendeu tudo na segunda-feira a preço baixo e viu as cotações recuperarem, no dia seguinte, tudo que foi perdido no dia anterior. E agora imagine também o sentimento de quem recomprou no dia anterior e assistiu a uma nova derrubada das cotações.

Esses movimentos têm, sim, relação com a situação da economia real, mas a magnitude das oscilações deriva mais do comportamento dos investidores do que da realidade econômica. Tanto isso é verdade que, em São Paulo e em Nova York, Tóquio ou Frankfurt, o sentido dos pregões é o mesmo. Na Bolsa americana, no meio da tarde desta quarta-feira, os índices desciam a mais de 5%, depois de terem subido também 5%, maior alta em um ano, no dia anterior.

Sinal de que incertezas imperam vem da onda de compras de títulos de 10 anos do Tesouro americano, o clássico porto seguro dos investidores em meio a crises financeiras severas. O rendimento do papel tem recuado fortemente, o que ocorre sempre que seu preço sobe, reagindo a uma demanda em alta.

A bolha que agora estourou vinha sendo construída por uma prolongada temporada de juros baixos e injeção de liquidez nas economias, pelos bancos centrais. Dinheiro farto e barato, mesmo para gatos escaldados da crise de 2008, costuma ser uma atração fatal para contrair empréstimos e focar em papéis de maior risco e presumível maior rendimento.

Assim como não sabe até onde vai o surto do novo coronavírus, também ainda não dá para saber quando as oscilações nos mercados financeiros vão começar a diminuir e um novo ponto de equilíbrio vai ser alcançado. Nesse ambiente tóxico, tentar evitar decisões irracionais e de manada é o melhor caminho a seguir.

Sobre o Autor

Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.

Sobre o Blog

Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.