O que explica derrubada da Bolsa e alta do dólar e até onde isso pode ir
José Paulo Kupfer
12/08/2019 13h16
A manhã desta segunda-feira (12) foi agitada na Bolsa de Valores e no mercado de dólares. O índice Ibovespa, o principal do mercado de ações brasileiro, caiu mais de 2% no pregão da parte da manhã, perdendo 2.000 pontos e descendo de 104 mil pontos para menos de 102 mil.
No mercado cambial, a cotação do dólar comercial avançou para mais de R$ 4, com alta de mais de 1,5%. No fim da manhã, a moeda americana valia R$ 3,99. Os juros futuros também operavam em alta, indicando aumento das incertezas e dos temores com a marcha lenta da economia.
Todo esse movimento se deve, principalmente, a razões externas. A primeira e mais impactante delas deriva das repercussões da vitória da chapa de centro-esquerda kirchnerista nas eleições primárias na Argentina. A chapa do presidente Mauricio Macri foi derrotada por larga margem (mais de 15 pontos de diferença).
Essas eleições funcionam como uma prévia do pleito presidencial de outubro. Na tradição política argentina, derrota por margem tão alta nas prévias eleitorais sinaliza possibilidade real de vitória da chapa vencedora em agosto nas eleições efetivas de outubro –talvez até mesmo em primeiro turno.
A perspectiva de reversão política no país vizinho, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, afetou negativamente os mercados financeiros no Brasil, atingindo também os demais mercados latino-americanos. Mas outros motivos se somaram para acelerar perdas nos pregões.
Nesta segunda-feira, a Bolsa de Nova York abriu em queda, refletindo nova desvalorização da moeda chinesa, que continuou a ser cotada acima de 7 yuans por dólar. As cotações do yuan são em parte controladas pelo Banco Popular da China.
Ao insistir numa moeda mais desvalorizada, os chineses mantiveram acesos nos mercados globais os sinais de alerta produzidos pelo prolongamento da guerra comercial travada entre EUA e China, agora agravados pelas tensões políticas em Hong Kong. Já está claro que a escalada na guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais promoverá um encolhimento do comércio internacional, com impactos negativos sobre as economias nacionais.
Ainda que as cotações procurem zonas de acomodação nos mercados financeiros, a insegurança em relação ao ambiente econômico no futuro próximo é agora a tônica nos mercados globais, incluindo os das economias emergentes, como é o caso do Brasil. Isso significa que, com a alta da sensibilidade dos investidores, aqui e no exterior, novos movimentos de corrida contra os ativos —ações e moedas, na linha de frente— não podem tão cedo serem retirados do radar dos investidores.
Sobre o Autor
Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.
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Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.