Emprego ainda devagar, mas melhora e deve ter saldo de 1 milhão em 2020
José Paulo Kupfer
22/11/2019 12h40
Não há dúvida que a atividade econômica está se mexendo, mas também não há dúvida que ainda é um movimento lento. Essas convicções têm origem numa espécie de prova dos nove do comportamento da economia: o mercado de trabalho e, sobretudo, o mercado de trabalho com carteira assinada.
Com os resultados dos registros do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em outubro, fica claro que as empresas estão, pouco a pouco, ocupando a ociosidade com a qual convivem há quase seis anos. Embora o saldo entre admissões e demissões, no mês, tenha sido metade do saldo de setembro, já são sete meses consecutivos de alta.
De janeiro a outubro, o volume de postos de trabalho com carteira chegou perto de 850 mil. É, em si, um número expressivo, o mais elevado desde o início da recessão em 2014. Mas, observado em termos relativos, mostra que ainda há desconfianças sobre o vigor da recuperação em curso.
A trajetória do emprego formal em 2019 é bastante semelhante à percorrida em 2018, com tendência um pouco mais favorável neste ano. No acumulado em 12 meses, os 471 mil novos postos formais de 2018, subiram, em 2019, para 556 mil.
Também mais favorável está se mostrando a difusão do emprego formal, que alcança agora maior número de regiões do país e setores da economia. Embora o grosso das contratações ocorra no comércio e nos serviços, sinais melhores começam a aparecer em outros segmentos importantes, como a construção civil.
A marcha, contudo, ainda é vagarosa. Em tese, era de se esperar que reformas e estímulos já adotados, nesses últimos anos, inclusive taxas de juros em níveis ineditamente baixos, resultassem em maior saldo de empregos com carteira em 2019. Mas não é isso que as projeções dos especialistas têm apontado.
"Nossas estimativas apontam resultado um pouco abaixo de 500 mil novos postos formais em 2019, repetindo o número de 2018", diz o economista Bruno Ottoni, pesquisador na consultoria IDados e no Ibre (Instituto Brasileiro de Economia – FGV/RJ).
A redução do saldo de novas vagas de emprego com carteira, no fim do ano, é típica do mercado de trabalho brasileiro. Os números de setembro e outubro estão quase sempre entre os mais fortes do ano, em razão das contratações para atender à demanda do Natal e, mais recentemente, para as vendas da Black Friday, em novembro. Dezembro, sazonalmente, é mês de acentuada queda no saldo de empregos formais.
Diante das 3 milhões de vagas formais perdidas desde o início do período recessivo, o acumulado de 1 milhão de novos postos em 2018 e 2019 é uma marca que ainda fica a dever. Perspectivas bem melhores, porém, se abrem para 2020. Nas projeções de Bruno Ottoni, em sintonia com as previsões de crescimento da economia em torno de 2%, o mercado de trabalho formal poderá registrar, entre admissões e demissões, saldo de 1 milhão de empregos, em 2020.
Sobre o Autor
Jornalista profissional desde 1967, foi repórter, redator e exerceu cargos de chefia, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, nas principais publicações de São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito “Jornalista Econômico de 2015” pelo Conselho Regional de Economia de São Paulo/Ordem dos Economistas do Brasil, é graduado em economia pela FEA-USP e integra o Grupo de Conjuntura da Fipe-USP. É colunista de economia desde 1999, com passagens pelos jornais Gazeta Mercantil, Estado de S. Paulo e O Globo e sites NoMinimo, iG e Poder 360.
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Análises e contextualizações para entender o dia a dia da economia e das políticas econômicas, bem como seus impactos sobre o cotidiano das pessoas, sempre com um olhar independente, social e crítico. Finanças pessoais e outros temas de interesse geral fazem parte do pacote.